Merlot: The Reckoning

•novembro 11, 2009 • Deixe um comentário

Há algum tempo que penso em fazer uma carta, uma mensagem para mim quando eu fosse velho. Não sei ao certo como ela seria entregue o fato é que eu deveria de uma certa forma expressar meus sentimentos transitórios para uma alma que já viu de tudo neste mundo, para alguém que pudesse olhar para mim mesmo com uma benevolência quase infinita, com uma compaixão e amor que pudessem fazer com que ele mesmo se sentisse alguém mais valoroso, alguém que já teve mtos sentimentos juvenis, tolos e ingênuos.

Esse alguém sou eu em ambos os casos, ambos os casos escrevendo e lendo, vivenciando algo individual e transcrito de maneira parcial, romântica e cheio de gestos, em sua maior parte apenas melodias sem ouvintes.

E agora Guto Velho, agora o que resta de mim? De ti? O que há de vc senão esse amontoado de pavores, de gestos como vc diz, de sentimentos instantâneos que voam de maneira tão rápida que vc mal tem tempo de pensar em algo para conectar. Não se trata de algo apenas em descontrução, um sentimento que se solidificará em outro posterior, trata-se mesmo daquela sensação familiar de ausência e perseverança infantil, a noção rudimentar de que é preciso viver, viver e viver.

Mas então Guto velho, meu bom homem que está aí sentado na varanda sua casa decorada e inspirada na casa de água do Lloyd Wright, em sua mansão de pesadelos. Sozinho sim, pois, uma pessoa como vc não casa, uma pessoa como vc se consome em meio aos seus anseios de arte, vanguarda e potência da vaidade, de sentimentalizar pobres jovens pueris. Vc nem é velho ainda e já quer ter ares de Andre Breton e do atualíssimo Polanski.

Ora, por que me olhas assim com esta reprovação? Eu ainda poderia até alimentar a alma com estas fantasias imorais, poderia me contentar em amar quantas meninas fossem possível já que sou jovem, 24 anos, mas e vc aí? 50? 60 anos? Não importa, a partir do 40 todos são velhos irrecuperáveis e vc está aí mesmo, não nesta casa bela me meio à natureza, mas sim se alimentando de soja, trovões e chuvas compartilhando um  edifício com outros igualmente idiotas jovens com anseios pederastas. Vc é a materialização do fracasso cheio de ódio e raiva acumulados e não sublimados; solidificados neste claustro biológico de calvíce, banha e rancor.

Ou talvez não, agora, nos meus 24 anos, posso te olhar da maneira como quiser e te ver não um velho estéril. Um velho convicto e feliz, contente com sua capacidade de ter acumulado riquezas suficientes para poder acordar de manhã e olhar um mundo aloprado se esticando para um outro amanhã e um outro amanhã enquanto vc come calmamente a mesma banana, a mesma aveia açúcar mascavo que vc sempre gostou. Mas fazer oq? Sou velho, sou ancião de antemão e eu quero fazer músicas que nunca serão gravadas, quero gritar e me esbravejar com meus amigos na certeza de seus perdões. Quero esse devaneio clichê de que Godard me permite a reflexão, a introspecção.

Vc é velho, decadente mas mesmo assim, é o Guto que sempre foi velho e neste ponto a permanência do pessimismo se mostra uma virtude. A virtude de sempre se adequar a um tempo caduco, monótono e barulhento.

Composição 982354

•março 25, 2009 • Deixe um comentário

Esse sabonete em forma de coração

Cheira vinagre junto às minhas narinas

O som da guitarra lá fora

Faz-me lembrar de que a noite

Será de fúria e ventos fumegantes etílicos

Bored at the Curitiba

•outubro 26, 2008 • Deixe um comentário

Então, semanas atrás fui a Maringá a um evento de extensão universitária onde improvisamos uma apresentação. A apresentação ocorreu sem maiores transtornos mas mesmo assim, não se pode caracterizá-la de produtiva.

Essa semana voltei a ver a PEDN (Pinceladas expressionistas em um da nublado), foi muito bom revê-la, saborear o medo e o encanto do amor novamente (mais o primeiro do que o segundo).

Agora ouvirei o Messias do Haendel, não por que eu goste, mas parece o que há de mais apropriado a ser feito em uma manhã de domingo.

Fomos ao cinema, assistimos Última Parada 174, do Lima Barreto. O filme (agora fui tomar um café para tentar aumentar o poder cerebral… esse domingo está me deixando letárgico)… bem, o filme apresenta a história do Sandro, um menino largado às intempéries sociais…

 

Ah quer saber, vou mesmo é escutar essa música e parar por aqui.

“nada de mais, coisa boba, em nome da amizade”

•setembro 27, 2008 • 1 Comentário

Há coisas na vida que esquecemos com facilidade, que superamos e relativizamos para uma manutenção da nossa integridade, da permanência da linha de nossas metas e objetivos maiores. Bem, eu me desvio com facilidade.
Ontem eu investi dinheiro onde não devia, estou magoado financeiramente, machucado monetariamente, ofendido capitalisticamente falando. Seria essa a menor ou a maior das ofensas que uma pessoa deve considerar como grave em sua vida?
Eu paguei coisas para os outros, nada de mais, coisa boba, em nome da amizade e sobrepondo isso a elas. Mas essas coisas bobas se juntam e me ferem ainda mais, estou triste financeiramente.
As pessoas me chamam para tomar café, eu as vezes as chamo para tomar uma cerveja, isso consome dinheiro…
Por que não consigo reclamar simplesmente que sou pobre, que minha tristeza financeira é causada por mim mesmo, pela minha insuficiência em conseguir acumular capital suficiente? Por que eu não posso dizer que minha tristeza vem da efemeridade dos meus encontros, da futilidade da embriaguez e da torpeza do desespero em pagar para se sentir “mais amigo”? Realmente, o problema não é com o dinheiro em si, é a falta de sinceridade em meus atos e também uma incapacidade em gestão de dindim, tutu.
Mas o tutu acabou, e agora Criatura? E agora?
Não tenho dinheiro, não me restaram as amizades e os sorrisos que eu recebi ao pagar uma cervejinha.
(…)
Ontem, 26, participei de mais um ritual juvenil a respeito pela apreciação musical embriagada e pela ampliação social. Eu estou feliz, controlo bem a admissão etílica e observo com certa passividade, desconfiança e até com uma admiração prepotente sobre o caos aparente da situação das pessoas pulando (antes fosse pululando) e cantando canções do Império — estou com uma disposição a criticar ferozmente as coisas, não o farei.
Nada disso importa, o cenário é o mesmo de fumaça e barulho. Eu apreciava a música ao mesmo tempo que não controlava meus devaneios pretensamente psico-analíticos tais como: tenho medo dos seguranças de balada, são mal-pagos, bombados às vezes, submetidos ao barulho infernal (quem não fica com raiva e medo quando pressionado auditivamente?), será que aquela menina é namorada dos integrantes da banda? Será que aquelas meninas são lésbicas?
Dentre essas indagações mundanas eu me lembrei da menina com roupas de florzinhas que eu achei no começo, não era feia nem muito menos referência de beleza, parecia sofrer de sobrepeso mas, a despeito do meu julgamento estético precário, o fato é que o rosto dela me transparecia maturidade, velhice, rugas em um oásis de jovens imprudentes.
Marcou-me aquela roupa e me lembrei que ela realmente se parecia muito com uma que minha mãe mostrara recentemente a mim dizendo que era exatamente aquilo que ela vestia enquanto estava grávida de mim.
Bem, no meu fluxo de pensamento nérdico optei por ir comunicar tal lembrança imaculada e ingênua a tal moça. Claro que eu não tinha muitas pretensões além daquilo a não ser sair um pouco da minha indulgência infra-balada e do meu relacionamento prosaico e desinteressante com as mulheres.
Comunico-a e já me arrependo, de pronto. Ela não é velha e nem tem rugas, na verdade o rosto dela não se parece nada com o que eu tinha na memória (será que eu sequer tinha visto o rosto dela antes?).
Não importa, o fato é que estou quebrado, fudido mesmo financeiramente… essa fuga do prosaico custa caro, a fuga custa caro… essa minha subversão burguesamente controlada custa muito caro.

As histórias se repetem, baseado em fatos reais (internet chatting…)

•setembro 23, 2008 • 1 Comentário

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:02)

Então, 16 de maio de 2007 eu estava voltando de ônibus e vi uma mulher, achei que tivesse uns 25 anos e ela tinha uma aparência bem sóbria, quase severa. Eu achei ela muito bonita e me perguntei até se poderia ser professora da região do botânico. Bem, o dia estava bonito e eu estava muito feliz, raro isso… naquela época eu estava mal humorado, faculdade nova, terceira faculdade para ser exato…

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:04):

… acordando cedo. Bem, eu vi que ela vestia uns sapatinhos bem bonitinhos (que hoje em dia tá banalizado pra caralho) e umas meias laranjas… acheio aquilo muito surreal. Então, entrei no ônibus bem nerdão, fiquei lá trás e olhando ela… ela sentou em um banco único, não dava para eu sentar do lado. Pensei “se ela não sair em nenhum ponto e sair no terminal do portâo eu vou puxar assunto”… o

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:04):

… os pontos foram passando e eu lá me agonizando. Eis que ela sai no terminal e eu pensei “fodeu, agora vou falar não quero nem saber”.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:05):

Fui lá, peguntei se ela era atriz pq parecia uma atriz de uma peça que eu tinha assistido no festival de teatro… ela respondeu que não e de qual grupo de teatro que eu tinha visto.. .pensei “fodeu, ela me pegou no pulo…. não dei porra nenhuma de teatro”. Mas ela estava bem feliz, daí eu não sabia mais o que falar e perguntei na loca, bem aleatório… arriscando, se ela gostava de filme do berg

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:06):

Bergman… pq ela parecia a Ingrid Bergman (que não é parente do bergman e fez um só filme com este diretor).

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:07):

Complementando: eu disse que ela parecia com a Ingrid Bergman, e ela falou que adorava o diretor e que achava esta mulher a mais bonita do cinema. Eu fiquei feliz, ponto dentro. Daí pegamos o ônibus e fomos embora no mesmo…. coincidentemente ela pegou o Capao Raso. Fomos embora e ela me contou que era formada em história e fazia gestão da informação ali no sociais aplicadas, e veio até assunto d

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:08):

… de filosofia no meio e muita coisa que eu tinha estudado em música batia com coisas dela. Estávamos muito bem… até passei a mão no cabelo dela pq tinha uma folhinha. Daí ela desceu um ponto antes do meu e eu acompanhei ela até o ap dela, que fica ali do lado do mercado Festval, bem perto daqui de casa. Falei do meu trabalho… conversamos mais um pouco e combinamos de irmos juntos à faculdad

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:08):

no dia seguinte de ônibus.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:10):

No dia seguinte fomos à faculdade e conversamos, bla bla bla… e daí eu fui assistir a segunda aula na sala dela. Eu sentei do lado e ela escreveu no caderno dela, para não perturbar a aula “pq vc veio falar comigo ontem? ” E eu escrevi “pq eu gostei de vc”. Mas pq veio falar…. ela insistiu meio cética. Eu falei que achei ela bonita, das meias, dos sapatinhos… acabou a aula e fomos embora. Da

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:11):

Ela me acompanhou até a porta daqui de casa e fomos comer juntos, já que eu não tinha comida em casa como sempre e não tinha ninguém aqui. Foomos naquela panificadora aqui do lado e ficamos conversando… bla bla bla… eu estava zen, nào estava punheta e tava gostando muito dela, mas sem me deslumbrar. Daí veio finalmente papo de namorada, eu falei que não tinha, ela falou com receio e insegura..

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:12):

… que tinha um namorado que não era daqui, que tinha dado muita briga entre eles e que eles estavam dando um tempo. Ele mora em são josé dos campos e trabalha não sei com o que. Bem, eu falei que estava um pouco surpreso, indaguei objetivamente sobre o relacionamento dela como que tentando aconselhar mas já vendo que ela na verdade estava tentando amenizar a formalidade entre eles pra se ficar..

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:14):

aberta para mim. De modo que nos despedimos, fui ao trabalho e ela falou algo que gostou mto de mim. Até aí eu vi que estava com mta vantagem. Então a noite fomos ao café ali no batel onde o Sonhador me ensinou que é o lugar de levar mulher e fiquei com ela, foi algo muito estranho, a gente se beijou com muita força, parecia que éramos casados… sei lah. Na volta eu a levei (estava de carro) para ca

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:15):

casa e ela me contou que estava de viagem e malas prontas para São José dos Campos e que ela estava insegura se queria ir, mas que tinha prometido, e etc etc etc e eu a estimulei ela a ir, tentei falar que gostava dela mas que ela tinha outras obrigações, ela chorou e eis que não a vi mais.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:16):

Ah sim, era uma quinta. Na sexta feira, no dia seguinte, fomos novamente juntos à faculdade e chegamos à biblioteca, daí ficamos nas salinhas se pegando um monte, nossa, exagero de pegação. Daí acho que nos despedimos e fomos embora, na hora do almoço já (assistimos a segunda aula, eu e ela) e daí não nos falamos mais. A noite eu liguei para ela e tava dando quebra pau por algum motivo entre ela e

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:17):

a mãe dela que ela nào queria ir … algo assim. Eu desliguei o telefone (eu falei com a mãe dela) e pensei “fodeu… meti a menina em uma enrascada, agora tá fervendo geral por lá”.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:17):

Desliguei, no dia seguinte liguei e ela tinha ido mesmo.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:19):

Daí durante a semana, semi apaixonado e preocupado com a situação eu escrevi uma cartinha e comprei orquídeas para dar para ela quando ela recebesse. Mas eu mandei a carta aberta de modo que eles pudessem ler (claro que iriam ler né) e ver que minha intenção não era causar zona. Bem, o fato é que depois disso ela ficou lá por uma semana, voltou para Curitiba e viu as orquídeas, gostou bastante, n

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:20):

não indaguei com ela como fio a estada dela lá em SJC mas ela disse que foi um saco. Daí ficamos juntos com pequenos altos e baixos por 2 semanas. eis que eu comecei a tomar pau em algumas matérias e ela começou a me condenar, com uma certa razão, como irresponsável e sempre tentando achar argumentos que nunca nada daria certo entre nós, nada. Até que um dia, depois que ela foi em uma festinha em

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:21):

uma amiga… que eu aliás levei ela até lá, ela passou a me evitar. Eu ligava para ela em casa (ela não tinha celular) e falava que não me queria ver, inventava desculpas, se recusava em atender o telefone e como sempre tentava argumentar que eu era muito novo para ela, irresponsável e etc e que não daria nada certo entre nós. Esse dia que eu levei ela na festa era dia de matsuri… fomos juntos.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:23):

Daí em diante eu não a vi mais, pedi ela em namoro e ela recusou, cheguei a fazer uma cartinha e entreguei em mãos nesta ocasião, daí depois eu tentei ligar bastante para ela, mas eu sempre falava na maior parte das vezes com a mãe dela, eu era bastante eloquente e receptivo com a mãe dela como uma maneira de induzir a qualquer um naquela casa a se sentir a vontade para dizer

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:24):

“Ei cara, pare de ligar aqui, não há mais nada para vc da . … .”. Mas a mãe dela falava comigo na boa, nao era totalmente miguxa mas era educada e receptiva. Poucas vezes a . … . atendia e nessas vezes ficávamos num papo frouxo. Bem, até que no final de julho, depois de 1 mês quase só de telefones e já em um período de esgotamento eu perguntei aquilo e ela me disse que nunca mais queria me ver.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:25):

Dezembro ela me manda a mensagem, fala que comprou celular… conversamos por msn, vejo ela por uns dias, ajudo-a a achar material para ela passar no mestrado e ela passa. Depois disso eu encontrei ela em um bar, peguei não mão dela, ela me evita a todo custo. Daí no msn ela diz poucos dias depois que “desse jeito não dá” que “não dá para eu ficar pegando ela” e eu falei que era o único jeito da

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:26):

gente ficar junto.

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:27):

Parei de falar com ela, eis que coisa de um mês atrás ela fala comigo no msn (nao a bloqueei, só deletei) e ela fala que estava ganhando bolsa do mestrado, queria me dar um presente como recompensa ao fato de eu ter ajudado ela a achar material para estudo no mestrado eu falo “que ela estava fazendo aquilo por mal estar moral e que não queria ter nenhum vínculo material com ela” e depois

. . . U T O G U T O G U T . . . diz (02:27):

falei q a presença dela hoje em dia só me faz mal e fim de conversa. Nunca mais nos falamos.

Coloque sua idéia revolucionária aqui

•agosto 16, 2008 • Deixe um comentário

Neste instante, inicio devaneios da madrugada volume 1 (notas da nossa era: teclados de notebook não servem para poesia).

Me deu vergonha agora, me deu vergonha de escrever. Aliás, estou mesmo é com vergonha de lembrar de um pequeno grande projeto que tive outra vez em uma noite (de delírio mútuo?) com meu amigo Cavernoso. O plano era bem simples, porém de difícil implementação: fazer uma performance artística improvisada na rua XV, levaríamos nossas almas insatisfeitas e gritaríamos por alguns segundos lá, até que a vergonha e olhar de repulsa dos outros nos desse noção do papel ridículo que estaríamos fazendo (a coisa teria que ser treinada e planejada antes, ora, se não fosse algo que durasse pelo menos 3 horas seria melhor que nunca tivéssemos tentado).

    Bem, agora pensando nisso estou com outra vontade… uma vontade de pegar, tomar uns goles de birita antes e gritar algumas coisas pró-revolução e sair pulando (Descalço para não danificar o patrimônio alheio) sobre uns carros parados em uma dessas merdas de congestionamentos que irritam e nos fazem sentir nojo quando chegamos em casa, nojo do tempo perdido, das músicas e notícias irritantes a que fomos submetidos e nojo de sabermos que a convivência com nossa família durará apenas algumas horas até que o despertador anuncie mais um dia parado, congestionado (isso porque vivo em Curitiba ainda, se eu morasse em São Paulo é capaz de até este plano ser colocado em prática).

    Há algum tempo que não escrevo nada formalmente poético, na verdade nunca fui muito de poesia; certo dia eu estava bêbado na frente da casa de um amigo meu e eu expeli alguns versos pretensos.

    Bem, mas voltarei ao que interessa, pequenos projetos de quebra de rotina:

  1. (Censurado por mim mesmo) quando eu acordar… não, trata-se de algo grotesco, imoral e além do mais, um atentado à Família que nunca será perdoado (fora da lista).
  2. Usar um lança-chamas…

Isto está ficando estranho,algo que deve ser dito é que qualquer experiência deve ser feita sobre a mais absoluta sobriedade. Cometer atos imorais com intenções socialmente ascéticas só tem validade sem drogas ou birita. Estou inaugurando agora uma era (ou uma horda?) de valentões e valentinas (WTF?) que vão revolucionar o espírito da juventude através de uma sobriedade embriagada pela vontade de nos reconhecer olhando nos olhos e, talvez, resmungando em voz alta.

    Certo. Idéias coletivas. O que eu posso propor na minha situação de pouca experiência e preguiça burguesa com intenções fictícias?

    Já sei, vou olhar no título do meu blog para ver se tenho alguma idéia:

    “Oficina de ficções?”

    Hum, algo vago e muito formal, discreto e estério (estereo, não estéril).

    He He He, olha só o que eu escrevi embaixo: “O conteúdo deste blog é um excerto de um tempo da minha vida onde o tédio e a esperança se mesclavam com uma vontade latente e crescente de escrever com força, raiva e dor, ou seja, com paixão.”

Bem , eu até mesmo nos meus momentos menos auto-punitivos olharia com um olhar de desprezo para isso mas… pensando bem, o que diabos eu estava pensando quando escrevi aquilo, puta merda, que vontade de deletar isto do cabeçalho… mas vou deixar ali, como marca e incentivo para que eu escreva “com força, raiva e dor, ou seja, com paixão”. Na verdade não ficou tão ruim assim, mas com uma pretensão romântica e emotiva que não condiz com os palavrões que eu escrevo com tanta freqüência. Aliás, tédio e esperança? Como assim, tédio e esperança? Essas palavras não podem existir juntas, tédio + esperança é a pior combinação de afetos possível, é uma mistura de auto-piedade somada à indolência e preguiça e a vontade de ser resgatado por uma alma salvadora… isso é tão feminio, passivo, ridiculamente propenso ao estímulo de ficar aqui me esperneando castigando o teclado ( o que é certo e de fato ocorre).

    Bem, “Excerto da minha vida” está certo… “vontade latente”… tá… vontade de escrever. Bem, acho que não há nada de errado ali, mas também não tem nada inspirador. Aliás, só para terminar o assunto, alguém notou que tem uma figurinha ali em cima? Parece o nordeste com um filtro marrom né? Quem chutou isso quase acertou, trata-se de marte visto na perspectiva de um robozinho estadunidense… ai ai, I might as well be on mars. Tudo aqui é de um escapismo, uma futilidade tão grande que estou com vontade mesmo é de escapar daqui, mas acontece que a partir do momento que você começa a escrever e se identificar com o que escreve, pára de se auto-censurar e começa realmente a aceitar que estas palavras irregulares te pertencem você não consegue fugir da situação, esta acaba sendo sua única realidade. Para quem não está entende é como se você tentasse imaginar conhecer todas as pessoas que vc não conhece do mundo… difícil né? Então, a questão é basicamente esta.

    Mas daí vem a pergunta, será que aquele mesmo Autor que estava ali na sala tirando sarro dos puladores de cama-elástica da olimpíada contém a mesma essência do que escreve agora? Digo, a natureza do escritor é somente um fragmento de uma gama enorme de personalidades, micro-personalidades, que se manifesta durante o dia. Eu conseguiria cantar muitos improvisos aqui, profanando a música que daria vontade a … esqueci qual é o deus da música… Orfeu, isso, Orfeu vir aqui e me dar um chute no traseiro. Bem, conseguiria também fazer muitos rabiscos em um papel e fazer infinitas piadas de teor gay além é claro de imitar uma criança fazendo manha, mas isso não vem ao caso, o que mais importa aqui é se o meu olhar, aquele olhar que eu tenho quando observo a lua ou a calçada, o padrão irregular da calçada, é o mesmo que eu escrevo aqui. Aqui eu olho para minha memória e tento reproduzir por meio de palavras, ali eu simplesmente observo a calçada e não quero materializar aquilo de forma alguma. Acho que a solução para isso, como para muitas outras coisas, está na tecnologia. Eis aqui minha profecia, usaremos câmeras 24hrs 7 dias por semana sobre nossas cabeças que filmará e gravará auditivamente toda nossa existência, assim poderemos evitar mal entendidos em brigas e afirmações anteriores, assim como contemplarmos novamente determinados momentos sem precisar recorrer a métodos rudimentares como este de ficar escrevendo e gastando dedo à beça.

    Eu por exemplo gostaria muito de rever algumas imagens que eu tenho vagamente em minha memória de um ano e meio atrás, quando eu olhava o céu esbranquiçado e o ar difuso que misturava as cores em azul, branco e cor do meu amor aqui mesmo na frente da minha casa, era um olhar loiro com cabelos marrons e tÃo gostoso que dá vontade de escrever ahhhhhhhhhhhhhhhh aqui só para deixar o leito com vontade de rever este videoteipe mental. Tem outras coisas que eu gostaria de rever, coisas da infância, alguns pequenos momentos da minha adolescência. Bem, isso nunca vai acontecer, convém continuar discutindo o problema da memória aqui.

    Tenho alguns relatos de sonhos feitos em meados de julho deste ano (2008) para registrar aqui: (copiar e colar).

    “De que me adianta os músculos do mundo sem poder viajar conforme a música, o delírio de poder combinar signos e tentar, por combinação infinita exaurir todas as possibilidades comunicativas, este barulho que me maltrata e me desgasta e ferra meu coração e traça meu destino, a música não serve somente como entretenimento momentâneo, engana-se aquele que acha que a música é um mero prazer efêmero, ela traça nossas expectativas e elimina nossas esperanças.

    Todas as promessas que esta música me fez eu agora elimino com minha espada sagrada, todos os jorros de notas pretensamente fecundas agora caem em minha cabeça estéril. Depois do arco-íris eu quero encontrar a chuva (minha coluna dói; nonsense daqui para cima e kitsch daqui para baixo). A vontade de se expressar não depende de interlocutor. Queria tanto poder sair deste bar, a bebida é ruim e toca só Jimi Hendrix a despeito dos meus gritos por Raul, o Jimi Hendrix brasileiro com letras melhores e um jeito de tocar guitarra muito tosco. Aliás, é sempre bom lembrar também que a música não depende dos ouvidos ou da sensação acústica, é sempre bom lembrar que a música é mais sugerida do que realmente executada, é sugerida pela visão… se isso não ocorre a música vai lá e PIMBA, ela te encanta e aí já era meu amigo, você se viciará pelo que há de mais perverso na música.

    Mas o bar nunca fecha e as minha forças se esgotam antes de sequer trocar a primeira banda, a segunda será uma cópia dos Beatles (já não suporto mais essa tentativa de resgate desses manés de Liverpool e sua corja de velhos apáticos de sonhos frustrados dos anos 70).

    Se estou embriagado? Sim, mas era justamente isso, não escuto nada, somente o tilintar dos copos e os rugidos de fúria desta multidão de desconhecidos, de sombras de almas mudas, mudas que nunca brotarão.

    Na verdade eu não estou em um bar (já viu alguém escrevendo em seu blog em um boteco tocando Jimi Hendrix), estou mesmo é escrevendo no meu quarto bem acomodado, agasalhado e tomando Toddy e arrumando os playlists do meu ipobre. Mas eu gosto de imaginar que estou nos anos 70 mesmo vendo um rapaz se fazer de Jimi Hendrix (no final das contas eu nem sou velho e já estou alimentando nostalgias fúteis) — toda crítica ao hedonismo contemporâneo se faz primeiramente resgatando o que há de negativo ainda nas seguintes palavras: fútil, hedonismo, efêmero, anacrônico, fetiche.

    Aliás, por falar em fetiche é sempre bom lembrar da minha primeira ida ao sex-shop (que ainda não aconteceu, mas certamente não irá muito além disso): eu me apresento com ou mero curioso e vem uma moça bastante simpática oferecendo a última novidade do mercado: calcinhas comestíveis sem calorias. Pera lá, calcinhas comestíveis sem calorias?!? Tudo bem, que eu já tinha conhecimento de que existem calcinhas comestíveis eu já sabia mas agora que alguém da indústria ou algum consumidor se importou com o conteúdo nutritivo desses instrumentos da perversão, daí já é demais né? Bem, não importa, o fato é que poderia bem ser um diabético querendo participar do mundo cheio de fetiches do sexo (já não basta o problema erétil que possivelmente os diabéticos sofrem).

    Quero eliminar algumas palavras do cotidiano do meu blog, tais como: né, Pera (não Pêra), Bem… esses conectivos pobres que só revelam minha técnica literária tosca, porém contemporânea (nunca vou deixar que me tirem este rótulo dos meus produtos intelectuais, contemporâneo… ora, o mínimo que posso ser é uma vítimas das vicissitudes do meu tempo).

    Quantos parênteses eu já usei? quero saber por que de que adianta escrever se simplesmente replico a dinâmica do meu pensamento, a saber, caótica, amorfa e gordurosa (curiosidade: alguém aí, como eu, associa o cérebro com banha, gorduras e óleos? Não? Deve ser algo que eu comecei a associar depois das bainhas de mielina que são gordurinhas do bem que dão o choque entre os neurônios).

    Quero listar os filmes agora que assisti ou reassisti recentemente, listados em desordem crescente:

    Meu ódio será tua herança — bang bang onde os bandidos morrem e no final há muita risada, tem poucas mortes e uma música brega pra cacete.

    Blade Runner — corredor-lâmina, é o Harrison Ford que tem que matar os andróides mais humanos que os próprios humanos; palavras-chave: reificação, fetiche e tesão por androidinhas além é claro de muita gente entulhada, ora, é o futuro.

    Sexto Sentido — spoiler warning, o Shyamalan (grafias alternativas: sheimalão, xiámalã, etc) quer passar a perna na gente pensando que não sacamos que o cara tava morto desde o começo

    All these women — comédia pastelão do Bergman, He He He (risada com sotaque sueco)

    Os intocáveis — porcaria de filme overated do Brian de palma

    Os imperdoáveis — o coitado do Clint voltando a tomar umas canas

    Domésticas — filmes de domésticas com o Fernando Meirelles que tenta romantizar pela técnica umas das profissões mais chatas porém nobre do mundo

    No country for old men – Anton Sugar is badass.

    Sexta feira 13 — que lixo

    O massacre da serra elétrica — DO CACETE!!! Filmão com vários bichos do mato tais como aqueles que mataram o casal que foi acampar no meio do mato em São Paulo.

    A casa do Espanto: filmes pretensamente de terror no início mas que depois de um tempo o roteirista percebe: ah, vou esculachar pra comédia!

    O Poderosooo Chefão (sim as três partes): Best movie ever

    O retorno – spoiler warning (filme russo foda com ritmo lento, tão lento que realmente uma morte começa a fazer diferença do filme (ora, estamos acostumados a não nos sensibilizar com nada, nem com estupros ou pessoas com a pele do avesso, até que é mérito))— quantos parênteses eu deveria colocar aqui?

    Oldboy — outro filme que dá tanta volta que você começa a se confundir se a estrutura do filme foi decidida a priori ou foi sendo remendada com gambiarras a partir de um ponto para ser com mais momentos que vc acha que é o final,.

    Escritores da liberdade – a professora conquista com o coração um monte de alunos violentos, bão também.

    Vanilla Sky — o futuro chato que reproduz o que somos na vida real, porrrra!!! Eu não quero uma Matrix/realidade alternativa com meu corpo em um óvulo incubador para reproduzir o dia-dia, quero mesmo é ser bancar eu mesmo deus jogando Civilization…

    Um com o Bill Murray que recebeu uma cartinha e ele volta atrás das namoradas que ele não via há um tempão, ele é o Don Juan e é motorizado com música do Mulatão Astakte

    Memórias de uma gueixa — fuckin boring mas chorei

    Laranja MecÂnica: Hehe, eu sou mesmo uma mula, de tantas partes boas eu só consigo lembrar e rir do finalzinho do Druguinho-mor recebendo papinha do senador/ministro/sei lá.

    Declínio do império americano — para lembrar como professores universitários cultos podem cair mais na putaria que festa de funk carioca no pé do morro.

    Monty Python o sentido da vida – Ao contrário do prometido no começo, nem tem tanta peitola rolando na tela, não recomendo.

    O império do besteirol contra ataca – meio sux também, mas hehehe… a cartilha da hora de pegar carona é legal de se lembrar

    Garotas do abc – do caralho, miséria e esperanças no abc paulista

    Trash do Andy Warhol – uma bosta, toda hora aparece o bilau do junkie-protagonista … aliás o filme prova que vida de junkie é um lixo mesmo.

    

Ai ai, bem, Vou listar todas as músicas que eu já ouvi na vida:

A-há – Take on Me

Abba… Brincadeira, não faria algo tão chato e inútil assim.

Muá, que sono, vou mimir, tchau druguinhos.”

 

Isto tudo eu escrevi durante um dia das minhas férias, mas o que eu realmente deveria ter colado era isso.

    “Tenho aqui narrativas de sonhos, parciais e fragmentadas.

Hoje eu sonhei com um amigo Sonhador. Após horas fingindo que éramos bandidos eu fui dormir. Sonhei.

    Corríamos e enquanto eu olhava para trás pude observá-lo vindo montado em seu jacaré (em seu jacaré?). Até agora tento restabelecer qual poderia ser o vínculo disso com qualquer contraparte da realidade; não há.

    O jacaré vinha em alta velocidade e ele montado em cima, como quem monta em um skateboard, ultrapassava-me e seguia até que sua montaria secasse. Tal como um caruncho que seca para estender sua vida, o jacaré rendeu-se à imobilidade e fez com que nos olhássemos e logo concluíssemos que precisávamos de água ou comida. Indo buscar algo no mercado logo à frente, o Sonhador abandonou-me com o jacaré em um pântano que lembrava a parte baixa da cidade de Ribeirão do Pinhal e as cachoeiras próximas à Ponta Grossa onde fui certa vez com minha irmã.

    Após isso, vi o Sonhador correndo contra eu sendo seguido por um baixinho invocado. Aí já estávamos nas proximidades do supermercado Festival em Curitiba. Enquanto eles passavam por mim pude interrogar o perseguidor e constatar que o Sonhador havia cometido o crime de manter animais silvestres em cativeiro e no caso o perseguidor era um ex-promotor fazendo justiça com as próprias mãos. Bem, aí a cena se transportou para uma casa com piscina onde o jacaré tomava banho e todos observavam o Sonhador se aproximando dele e o cativando. Protegida as crianças da casa, sobrou para mim ser mordido pelo cachorro da casa na mão, isso parecia dor mesmo.    

    Esses dias eu sonhei que minha amiga Ansiosa desistia do curso que tentava fazer, mas isso não é um sonho, será realidade.

    Hoje tive outro sonho, pior do que o anterior. Como eu poderia descrever aquilo? Todos dizem para anotarmos nossos sonhos logo após o despertar mas isto é a dica mais estúpida que eu já ouvi, já que dificilmente estamos prontos mentalmente para transcrevermos sonhos em mais do que poucas palavras logo após o amanhecer. Ora, senão vejamos se eu tivesse procedido desta forma.

    Nhammmmmmmmmmm (acordando)…

 

    Hummm… Olha Distante, bicicletas, tiros em um campo de futebol aqui na AABB em SAP, café, fumaça entre seus dentes, um cabelo negro comprido recém tingido visto por trás (na verdade ela nunca pintaria o cabelo, o que ocorre é que ela estava diferente, era uma mistura de amores possíveis; o cabelo estava pintado de preto até as bordas, sendo estas mantidas em sua cor original, loiro… como que para provar que sua cor original era loira e que ela estava indo contra a tendência de enloirecer, e sim queria se amorenizar).

 

    Pois bem, após tiros e assassinatos entre amigos com diferentes armas de fogo, pude andei com Olhar Distante de bicicleta pelas ruas da Avenida Iguaçu entrecortando os carros, era noite e as luzes se estendiam em feixes coloridos, a cena era em terceira pessoa e uma câmera pegava em uma tomada alta.

    Claro que tudo isto é uma invenção, como todo sonho tudo o que me restam são quatro frames que sou incapaz de reproduzir visualmente, então tenho que fazer narrações tocas no papel.

    Já em outra ocasião, na esquina da Avenida Iguaçu com a Avenida República Argentina eu e ela combinamos de nos encontrarmos no café.

    Já lá, eu estou conversando distraidamente com um casal de amigos e observo uma moça distante, minha miopia (real) impede que eu a identifique com clareza, ainda mais pelo fato dela trajar um chapéu que impede que eu tenha certeza de seus cabelos loiros.

    Bem, após isso ela me aborda e reclama da minha demora em ir ter com ela. Ora, peço desculpas e vejo-a toda má e indisposta, com um jeito de self-made-woman.

O café era mais uma taverna medieval rústica parecida com o Café do Teatro, feia e cheia de móveis mal-envernizados em um ambiente esfumaçado e quase hostil. As cadeiras estava lotadas, tentávamos juntar 4 cadeiras para eu, ela e um casal amigo que desconheço a identidade. Ela, contudo, não se se senta e vai ter com outro casal de amigos (começo agora a fazer referências a uma noite de bebedeira com vários amigos em um dia frio de inverno no shopping).

Olho-a de trás, vejo denovo seus cabelos. Ela fuma, a cena se transfere rapidamente e vejo-a na minha frente com seu olhar branco, seu rosto magro cadavérico e o pior, sua boca tragando um cigarro e terminando o quadro horrivelmente noir que sentencia a morte de um amor e o nascimento de um moribundo.

    1984, um ano de eu nascer.

 

    Escuridão, INGSOC, Grande irmão, um pequeno romance ceifado pela morte programada, um lampejo de pesadelo de um escritor prolífico?

    Torres enormes são ministérios que controlam as pessoas, não existem indivíduos e a era do amor cínico e hipócrita dará lugar ao ódio honesto e sincero.

    O amor vigiado dará lugar a meses de mutilação física e mental.

    Quantas correlações podem fazer deste livro com a vida?

    1984 é apenas isto? Um lampejo de delírio maligno em um escritor? Estou me enganando? As metáforas do livro são tão óbvias que sequer consigo vê-las? Ou o escritor é somente um vórtex criativo e com um raio intelectual enorme a ponto de querer ofender os leitores com algo tão escuro, brincar com as expectativas afetivas do leitor de que haverá uma revolução, um levante por parte desta organização chamada Fraternidade?

    A sala… a sala e seus corredores de tortura. Salas sufocantes sem janela nem sol, o cérebro é eletrocutado e seu portador começa a distorcer a realidade, a ver coisas inexistentes, a acreditar que o ódio é capaz de modificar a matéria. A realidade só existe dentro da mente.    

    Pequenos jogos filosóficos? Jogo de palavras onde o leitor acredita construir o suporte estilístico através de seu próprio conhecimento?

    (Acabei de assistir ao filme Broken Flowers, com Bill Murray de Jim Jamursch. Achei no início que Winston —Jeffrey Wright — fosse o Cheech do Cheech and Chong. Uma carta anônima induz um velho amante a buscar um suposto filho, no caminho, ele não acha nada a não ser paranóia em olhares que falseiam o passado)”

 

    Agora sim, aproveitei e registrei uma lista de filmes que assisti, sempre bom ter esse tipo de coisa para vc não errar na hora de alugar.

    Certo, agora que eu colei coisas passadas já tenho material suficiente para completar um post gordo nesta manhã de sábado.

Nhammm… coxinha frita!

•junho 27, 2008 • Deixe um comentário

Decidi, realmente blog só serve como instrumento da memória, não há aqui valor literário algum e sim somente fragmentos do dia-a-dia para que eu possa me enganar de que o tempo é algo contínuo que flui pelo esquecimento da Vida.

    A coxinha da menina que emanava um cheiro nauseante pelo ônibus e seu olhar gordo e curioso sobre mim, sua mão balofa ao lado anunciando seu futuro de comilanças, seu clone, sua representação futura ali do lado, vulgarmente determinado.

    (11 Encontro da Anpec, fórmulas enormes)

    

    Semanas se passaram entre eu e a Luz, víamo-nos e não falávamos nada.

 

    (Briga com um amigo sobre desrespeito aos ascendentes).

 

    A falsa loira e a como a vida miserável, mesmo na tela, é miserável mesmo; não adianta, nem o cinema às vezes deixa a feiúra bonita.

 

    Três semanas entre o meu último post e é só isso que consigo me lembrar? Preciso melhorar, minha memória.

    

Promessas

•junho 10, 2008 • 3 Comentários

É noite e os pássaros espreitam meu cadáver. Não são todos os pássaros, são somente os pardais. Enquanto é dia eles cantam mas a noite… bem, vocês já se perguntaram alguma vez para onde vão todos os pardais que ficam o dia inteiro cantarolando? Eles se tornam espectros à noite e vagam por aqui perto, aqui mesmo no bairro água verde onde existe um cemitério enorme.

    O cemitério não tem nada a ver com os pardais que não tem nada a ver com o meu medo de morrer que aliás não passa de um devaneio literário efêmero. Mas que a noite está desgostosa está. Choveu agora pouco, fui andar de bicicleta ontem, choveu agora pouco e já faz tempo que não amo. Choveu agora pouco e quem sabe um dia eu darei outra volta ali no bairro ao lado.

    Passaram-se quantas semanas e eu não escrevi nada, acho que foram anos. Eu tenho o projeto de escrever todos os dias que se passaram em minha vida até hoje mas isto é um absurdo, já que a cada dia escrito eu perco outro dia escrevendo.

    Eu detestei esses dias… eles simplesmente evaporaram. O ócio consumiu eles? Acho pouco provável, o que ocorreu de fato foi a exposição reiterada a atividades que não tem nada a ver comigo: socialização virtual forçada e jogatina imprudente e irresponsável.

    Mas estes dias acabaram já que eu me acabei junto com eles, agora são dias novos com seus mesmos temores e a mesma vontade inocente de que o amanhã não é mais do que uma promessa, assim como o entardecer em Curitiba é a promessa de um paraíso.

Corrida contra a parede

•junho 1, 2008 • 1 Comentário

    Hoje eu sonhei que dois aviões caíram em Curitiba. Eu estava observando uma pista de pouso e um avião com turbinas enormes arremeteu e logo após isso começou a cair e foi se espatifar lá pela região da Vila Isabel. O outro aparentemente caiu aqui perto, no cemitério Água Verde mesmo… que irônico seria isto na vida real né? Um avião ter as vidas ali dentro ceifadas pelo impacto com os esqueletos do cemitério. Bem, ao menos todas aquelas estruturas verticais horríveis seriam destruídas e quem sabe o cemitério não fosse remontado em algo mais bonito?

    Bem, hoje é domingo, se vocês observarem bem o último dia que eu escrevi foi segunda-feira. A semana se passou com muito entretenimento eletrônico em contraposição à pouco estudo e leitura.

    O importante é que quinta feira eu fui almoçar com alguns amigos, ficamos falando sobre idéias de roteiros de filmes além de falar sobre aproximações às mulheres desconhecidas. O mais ganancioso deles, adjetivo dado diante de seu próprio apelido, ficou reclamando sistematicamente da situação constrangedora que foi ter sido vítima da reposição de vinho retirado do esquema estômago-atmosfera.

    A tarde formos rapidamente ao campi da Santos Andrade para verificar a presença de atividade profissionalizante do outro amigo Sapuens.

    Já em casa lá fui eu me entreter por um tempo para depois ir à casa do primeiro amigo citado para tomarmos uns quiçucos e ficarmos conversando. Pintei uma camiseta dele enquanto ele andava pra lá e para cá falando coisas.

    Depois disso e levemente entorpecidos pela luz do luar, fomos a uma escola de teatro onde Felipe Hirsch (de Thon Pain – Lady Gray que aliás eu não assisti) estava falando sobre aspectos técnicos e estéticos de cinema e teatro, além é claro de se auto-promover e receber o prestígio do silêncio do povo que estava lá. Chegamos embriagados ao local e atrasados uma hora, não tumultuamos o local de forma alguma, porém a suposta responsável pelo evento nos deu um pito dizendo que estávamos “torrados” e seria conveniente que saíssemos do local.

    Não só não saímos como também prestamos atenção e até discutimos sobre parte do que ele disse.

    Depois disso fomos ao wonka buteco bar in pub 3k years of bebunzisse… era aniversário do meu amigo Hal e ficamos tranquilamente agüentando o jazz anti-music do local por algum tempo até nos intoxicarmos com a fumaça daí ficamos mais um tempo falando sobre estética do tipo “experiências minúsculas de contemplação artística da própria natureza das coisas estão se tornando super eventos sensíveis diante da própria insensibilidade imanente ao estado pós moderno”

    Sexta, dia seguinte… no class for a tired Guy, sexta, dia de… dia de… dia de acordar tarde e ir ao mercado passar frio e volta para casa e ter ainda que dormir tarde, acordar cedo, terminar dê assistir 2001 uma odisséia no espaço e ir para um encontro pós virtual numa idade pós moderna onde a condição humana pré histórica impera sobre a tecnologia posta.

    Sábado é dia de Alegria.

    Acorde entusiasmado. Seria por isso que eu dormi pouco, de madrugada não sonhei, de madrugada mal dormi na verdade. Hoje eu dormi bastante mas não de sexta para sábado. De onde veio esse entusiasmo? De onde veio essa vontade de acordar sábado predisposto ao contrário de todos os outros dias da semana que se passaram?

    Bem, era dia de Alegria, era dia de estampar na existência um pouco de calor, a despeito do frio e fortalecer meu coração fazendo-o bater mais rápido na falta de movimentos a não ser o dos braços e carinhos.

    O dia foi de almoço com comida japonesa, o silêncio do local reservado para nós constrangia-nos um pouco assim como a soma de comida fria com dia frio e nublado dava um ar de insatisfação mútuo. Porém, havia no ar uma sensação de que não nos conhecíamos ainda, como de fato não nos conhecemos.

    Depois disso fomos ao parque Jardim Botânico, ficamos por uma hora deitados nos vendo e nos tocando com os lábios, estava um tempo horrível e um vento frio e tudo aquilo parecia conspirar para nossa tristeza mas começou a acontecer aquilo que eu esperava: sinceridade. Como se não conseguíssemos expressar o que sentíamos, beijávamo-nos sem proferir uma única palavra, a comunicação corporal foi intensa e sem nenhuma insegurança… vimos os animais passeando despreocupadamente e sentíamos empatia por eles. Depois caminhamos e visitamos rapidamente a mostra fixa do Frans Krajcberg e vimos como uma pessoa pode reaproveitar madeira queimada e desafiar o material em busca de formas estranhas que ninguém reconhece. Bem, eu admiro isto mas a repetição por uma série de obras iguais tende a insensibilizar o expectador.

    Queimadas e fim da natureza combinavam com as flores arranjadas em polígonos do parque que combinavam com o período programado para o fim do nosso encontro. Lentamente a sinceridade parecia se esvair e sentia que estávamos mecanicamente programados a termos nosso último encontro ali, naquelas poucas horinhas juntos. Não somos almas gêmeas e temos e interesses em comum… disse algumas vezes durante esse período que se eu encontrasse uma menina que dissesse que seu disco favorito é o “Kind of Blue” ou mesmo que odeia músicas gravadas, registradas de um modo geral, eu me casaria com ela na hora.

    Mas a questão não é essa, ela não gosta de Miles Davis mas não é isso… é que não conversamos, não sei o que dizer e ela também fica constrangida comigo, eu sou uma máquina de constrangimentos para mulheres e minha mãe mesmo já observou isto quando disse “não fale coisas difíceis (ou foi estranhas) para as meninas” ai minha mãe se você soubesse o quanto esses seus comentários feitos as pressas durante a noite são representativos.

    E aí veio a despedida e o excesso de antecipações, projeções, especulações e milhões de variações de ões jorravam sua vaga de decepções sobre uma mente atordoada pelo momento de esquecimento dos beijos e abraços. A efemeridade das circunstâncias mostravam seu vigor quando constatei: não sabemos nos comunicar um com o outro, logo, estamos perdidos, logo não conseguiremos nos abraçar senão sob a vontade de esquecer e inexistir.

    Fim de dia triste, fui ver o resto do povo do ex trabalho, muitos gastos mesmo com bebidas e comidas insípidas, muito frio e ventos com mais bebidas em um dia extremamente burguês e cansativo.

    Domingo de sono e sonhos como disse no início, sonhos de acidentes e onde uma hora eu peguei a bicicleta para correr em uma rua com árvores de folhas marrons que não existem aqui em Curitiba.

Fim de festa

•maio 27, 2008 • Deixe um comentário

Quando a música acaba e os sonhos desaparecem entra um ar gelado pela janela do meu quarto e assim percebo que os ruídos sempre vencem.

 

Ando por algum tempo dando voltas em círculos, conservo assim a utilidade desta prisão, desta caverna onde se paga para viver.