“nada de mais, coisa boba, em nome da amizade”

Há coisas na vida que esquecemos com facilidade, que superamos e relativizamos para uma manutenção da nossa integridade, da permanência da linha de nossas metas e objetivos maiores. Bem, eu me desvio com facilidade.
Ontem eu investi dinheiro onde não devia, estou magoado financeiramente, machucado monetariamente, ofendido capitalisticamente falando. Seria essa a menor ou a maior das ofensas que uma pessoa deve considerar como grave em sua vida?
Eu paguei coisas para os outros, nada de mais, coisa boba, em nome da amizade e sobrepondo isso a elas. Mas essas coisas bobas se juntam e me ferem ainda mais, estou triste financeiramente.
As pessoas me chamam para tomar café, eu as vezes as chamo para tomar uma cerveja, isso consome dinheiro…
Por que não consigo reclamar simplesmente que sou pobre, que minha tristeza financeira é causada por mim mesmo, pela minha insuficiência em conseguir acumular capital suficiente? Por que eu não posso dizer que minha tristeza vem da efemeridade dos meus encontros, da futilidade da embriaguez e da torpeza do desespero em pagar para se sentir “mais amigo”? Realmente, o problema não é com o dinheiro em si, é a falta de sinceridade em meus atos e também uma incapacidade em gestão de dindim, tutu.
Mas o tutu acabou, e agora Criatura? E agora?
Não tenho dinheiro, não me restaram as amizades e os sorrisos que eu recebi ao pagar uma cervejinha.
(…)
Ontem, 26, participei de mais um ritual juvenil a respeito pela apreciação musical embriagada e pela ampliação social. Eu estou feliz, controlo bem a admissão etílica e observo com certa passividade, desconfiança e até com uma admiração prepotente sobre o caos aparente da situação das pessoas pulando (antes fosse pululando) e cantando canções do Império — estou com uma disposição a criticar ferozmente as coisas, não o farei.
Nada disso importa, o cenário é o mesmo de fumaça e barulho. Eu apreciava a música ao mesmo tempo que não controlava meus devaneios pretensamente psico-analíticos tais como: tenho medo dos seguranças de balada, são mal-pagos, bombados às vezes, submetidos ao barulho infernal (quem não fica com raiva e medo quando pressionado auditivamente?), será que aquela menina é namorada dos integrantes da banda? Será que aquelas meninas são lésbicas?
Dentre essas indagações mundanas eu me lembrei da menina com roupas de florzinhas que eu achei no começo, não era feia nem muito menos referência de beleza, parecia sofrer de sobrepeso mas, a despeito do meu julgamento estético precário, o fato é que o rosto dela me transparecia maturidade, velhice, rugas em um oásis de jovens imprudentes.
Marcou-me aquela roupa e me lembrei que ela realmente se parecia muito com uma que minha mãe mostrara recentemente a mim dizendo que era exatamente aquilo que ela vestia enquanto estava grávida de mim.
Bem, no meu fluxo de pensamento nérdico optei por ir comunicar tal lembrança imaculada e ingênua a tal moça. Claro que eu não tinha muitas pretensões além daquilo a não ser sair um pouco da minha indulgência infra-balada e do meu relacionamento prosaico e desinteressante com as mulheres.
Comunico-a e já me arrependo, de pronto. Ela não é velha e nem tem rugas, na verdade o rosto dela não se parece nada com o que eu tinha na memória (será que eu sequer tinha visto o rosto dela antes?).
Não importa, o fato é que estou quebrado, fudido mesmo financeiramente… essa fuga do prosaico custa caro, a fuga custa caro… essa minha subversão burguesamente controlada custa muito caro.

~ por guitahero em setembro 27, 2008.

Uma resposta to ““nada de mais, coisa boba, em nome da amizade””

  1. Tava groove it, filho! Que pelo menos a exaltada felicidade em ter tua companhia de balada aquela noite, dado ser ela tão agradável – além de teres testemunhado e apoiado a primeira incursão deste ser em muito tempo, na arte de abordar uma senhorita completamente desconhecida – compensem o hematoma capitalista no teu bolso!

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